A recente polêmica em torno do filme “4 Vidas de Um Cachorro” (A Dog’s Purpose) e o anúncio do fechamento do circo americano Ringling Bros denunciam o óbvio: animais e entretenimento não combinam, e, inevitavelmente, quando animais são usados para entreter, a chance é que crueldade e maus tratos estejam envolvidos.
Na semana passada, o site americano TMZ divulgou cenas das filmagens do filme que estava prometido ser um grande sucesso de bilheterias no mundo. O longa “4 Vidas de Um Cachorro” conta a história de um cão que reencarna na Terra quatro vezes para tentar achar seu primeiro tutor e melhor amigo. Nas cenas divulgadas, um pastor alemão é forçado a entrar numa piscina com motores para simular uma correnteza, segundos depois ouve-se gritos e pedidos para parar a gravação porque o cão havia se afundado.
Depois da divulgação das cenas, a première do filme em Los Angeles foi cancelada e houve uma grande troca de farpas entre a ONG de proteção animal PETA, e Gavin Polone, produtor do filme. Polone afirmou que, apesar dos erros cometidos, o vídeo é impreciso e foi editado para passar a impressão de ser algo pior do que era. O produtor usou o fato do filme estar sendo acompanhado pela American Humane Association (AHA) – associação que acompanha muitos filmes de Hollywood envolvendo animais para garantir tratamento adequado a eles – para afirmar a preocupação de bem estar animal no longa. Entretanto, a AHA já tinha sido questionada por fazer “vista grossa” a maus tratos animais durante sets de filmagem. Uma polêmica colocou a associação em uma posição delicada após um email de Gina Johson, funcionária da AHA, ter sido levado a público. No email, ela comenta com um amigo sobre as filmagens do filme “As Aventuras de Pi” : "A pior coisa foi que semana passada nós quase matamos King no tanque d'água. A tomada com ele foi muito ruim e ele se perdeu tentando nadar para a borda. Quase se afogou. Eu acho que nem preciso dizer, mas NÃO MENCIONE ISSO COM NINGUÉM, ESPECIALMENTE COM O PESSOAL DO ESCRITÓRIO (sic)", disse Johnson.
O e-mail levou a The Holywood Reporter a uma longa investigação responsável por expor uma série de problemas de maus tratos e mortes de animais em sets de filmagens de Hollywood acompanhado pela AHA, incluindo a franquia Piratas do Caribe e Hobbit. Na época, a AHA rebateu a investigação dizendo que a reportagem distorcia seu trabalho, mas dispensou Gina Johnson sem explicar o porquê. É pela impossibilidade de garantir o bem estar animal em sets - afinal, filmagens já são estressantes e cansativas para humanos, que sabem o que estão fazendo e estão lá por vontade própria, imagine para animais que não entendem o que está acontecendo e são forçados a fazer coisas e passar por situações de alto stress de maneira contínua - que Lisa Lange, VP sênior do PETA, afirma que animais precisam ser banidos dos sets de filmagens e, para isso, já existe computação gráfica. Porém, para os produtores, essa tecnologia custa muito mais caro do que “usar” animais e diminui a margem de lucro dos longas. Sendo assim, animais continuam sendo vastamente utilizados nos filmes. Mas não é só em Hollywood onde animais e entretenimento enchem os bolsos de alguns. A indústria circense ainda utiliza práticas do século retrasado envolvendo animais para atrair público e gerar renda. Nesse meio, porém, não há espaço para dúvidas: para treinar felinos, elefantes e macacos são usados violência, força bruta e eletrochoque. Recentemente um dos circos americanos mais famosos, o Ringling Bros and Barnum & Bailey, anunciou o encerramento de suas atividades assim que finalizar algumas apresentações já agendadas. Fundado há 146 anos, o circo fazia vasto uso de animais em seus espetáculos, especialmente elefantes e até mantém um “Centro de Conservação de Elefantes”, na Flórida.
Apesar do circo ter parado de usar elefantes em suas apresentações em 2016, os animais escaparam apenas do stress das apresentações e das longas viagens, mas continuaram encarcerados no centro de maneira cruel. Apesar do nome, o centro de conservação serve como uma prisão, onde os elefantes chegam a ficar acorrentados 23 horas por dia. Após uma ordem judicial, inspetores independentes especializados em elefantes constataram que os animais passavam tanto tempo presos e acorrentados na mesma posição, que era possível ver o formato de suas patas no concreto - entre outras situações deprimentes e desconcertantes. O anúncio do fechamento do circo foi recebido com tom de celebração e alívio. O PETA afirmou que o fechamento "anuncia o fim do que foi o show mais triste na terra para os animais selvagens”. A ONG pediu a todos os circos que ainda usam animais para repensarem suas posições, pois estamos em “mudança de tempos”. Como pontuou Seth MacFarlane, criador do desenho Family Guy, “o fechamento do circo Ringling Bros encerra 146 anos de humilhação animal para diversão humana". Nós ainda temos um longo caminho a percorrer até conseguirmos abolir o “uso” de animais para qualquer coisa, incluindo para entretenimento. Mas, assim como aconteceu com a Sea World e o próprio Ringling Bros, boicotar entretenimento com animais é um passo importante para colocarmos esses animais em liberdade. Então, não financie esse tipo de entretenimento e crueldade com o seu dinheiro, pesquise antes sobre o filme e espetáculo e se ele faz uso de animais. Caso positivo, diga não.